FUGA DAS PALAVRAS
- foscaworld
- 10 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Fuga das Palavras

As palavras escapam desajeitadas, se afastam às vezes do pensamento profundo, do sentimento inicial. O que nos diferencia dos animais é que nós, as palavras, podemos empregá-las. No entanto, a incompreensão é tão humana. Tantas vezes o fascínio nasce justamente no silêncio, uma magia muda. Apaixonar-se, surpreender-se, sonhar, esperar, lembrar, sofrer. Aquele instante a não perder, onde nos abandonamos a uma sensação intensa e inexplicável. Como se fossem instantes suspensos no ar, como almas, como pétalas, como vagalumes. Diante de uma beleza lancinante ninguém fala. Tudo para, o tempo, as coisas. Tudo fica suspenso.
Descrever é uma tarefa. Interpretar é criar.
Fala-se tanto hoje, demais, de absolutamente tudo. Línguas que se movem gerando sons escutados apenas por quem os emite. Ninguém escuta mais ninguém. Diálogos surreais, vozes agudas, tons estudados, frases feitas, escuta acelerada, confronto adiado. Escorregamos no liso, sem surpresa, sem diferença, sem cor. Uma névoa de palavras, uma algazarra indefinida.
Fuga.
Simplesmente dirigir o olhar para o alto basta para acalmar o burburinho, como se abrisse uma janela invisível em direção à fantasia, ao sonho, ao próprio pensamento. Toma forma uma bolha imaginária, como uma esfera leve, que flutua, que nos convida a fazer uma viagem com a mente. Há quem feche os olhos e respire profundamente como se estivesse no topo de uma montanha. Há quem mantenha os olhos abertos e se sinta como aspirado além das nuvens.
As palavras se tornam letras, letras que se misturam perdendo todo sentido, tornando-se o alfabeto secreto do sonhador.
Fosca World
Paris - 1 Novembre 2024
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